
Cannabis medicinal é segura?
Ainda existe estigma quando se fala em cannabis medicinal, o que pode criar a impressão enganosa de que é um tratamento perigoso.
Publicado em 17 de novembro de 2025 • 6 min
Sim, o uso de canabinoides com indicação médica é seguro. Mesmo o uso recreativo da planta demonstra uma relativa segurança se comparado a muitos medicamentos comuns.
Antes de iniciar o uso de canabinoides é necessário avaliar riscos e benefícios. A indicação do tratamento envolve, por exemplo, avaliação do seu histórico de saúde, aplicação de questionários validados para registro dos sintomas, discussão sobre expectativas com o tratamento, entre outros cuidados.
O texto a seguir é baseado em uma revisão sobre a segurança no uso de cannabis medicinal. Nele você vai encontrar um resumo de quais situações necessitam de cuidado especial, e também alguns casos onde ela é contraindicada.
Considerações necessárias
Cuidados relacionados à idade
As alterações orgânicas esperadas com o avançar da idade podem tornar um indivíduo mais suscetível a efeitos adversos da cannabis medicinal. Isso se torna mais relevante quanto maior for a idade, doenças associadas e medicamentos em uso. O uso de canabinoides é possível nesses casos, mas exige cautela e uma monitorização mais frequente.
Por outro lado, o uso de cannabis medicinal também precisa de uma avaliação criteriosa em pacientes com menos de 25 anos, onde a exposição a doses elevadas de THC pode afetar o desenvolvimento neurocognitivo.
Aqui é necessário ressaltar que o problema maior reside no uso recreativo de cannabis, que nessa situação em particular pode ser considerado como abuso da substância. E quanto mais cedo ocorre essa exposição, maior o risco de desfechos negativos.
Doença cardiovascular instável
O THC pode causar efeitos cardiovasculares agudos, como taquicardia e hipotensão postural, por isso não deve ser usado em condições instáveis como insuficiência cardíaca descompensada, estenose aórtica grave, fibrilação atrial não controlada, e coronariopatias.
Em pessoas com doenças cardiovasculares bem controladas é necessária cautela na consideração do tratamento com cannabis medicinal, que geralmente envolve o uso de produtos ricos em CBD e com pouco ou nenhum THC.
Doenças hepáticas
Doenças que cursam com prejuízo grave da função hepática podem afetar a metabolização dos canabinoides, por isso é recomendável iniciar o tratamento com doses baixas e monitorização frequente de possíveis lesões e da função hepática.
Doença renal crônica
A cannabis medicinal aparenta ser segura mesmo em estágios avançados da doença renal crônica. Mas é recomenda-se evitar o uso de produtos que não tenham uma análise rigorosa de qualidade, considerando o risco de conterem metais pesados, pesticidas e solventes que se tornam ainda mais tóxicos pela função renal prejudicada.
Doença pulmunar
Não existem evidências de que fumar maconha seja uma causa de câncer de pulmão, mas fumar implica na combustão de matéria orgância, o que libera substâncias prejudiciais ao sistema respiratório, como monóxido de carbono, hidrocarbonetos poliaromáticos, amônia e outros cancerígenos.
Existem evidências de que o fumo de cannabis pode piorar sintomas respiratórios, como tosse, produção de escarro, sibilância. Isso é mais importante quando já há uma doença pulmonar instalada (enfisema, asma, bronquite crônica, câncer de pulmão). Ao mesmo tempo, os riscos associados ao fumo de tabaco levaram muitos anos para serem reconhecidos, é importante ter isso em consideração, talvez ainda não saibamos todas as consequências de fumar maconha.
Imunocomprometidos
A cannabis fumada tem risco de contaminação por microorganismos, e pessoas com baixa imunidade tem maior risco de infecção em contato com esses microorganismos. Esse risco é diminuído pelo uso de produtos com origem conhecida e bom controle dequalidade, e é insignificante em medicamentos regulamentados. Além disso, alguns medicamentos usados por pessoas imunocomprometidas podem interagir com a cannabis medicinal.
Transtornos psiquiátricos
Alguns transtornos psiquiátricos podem ser agravados com o uso de canabinoides, é o caso do uso de produtos com THC por pessoas com esquizofrenia, que é contraindicado. Esse risco também é significativo nos transtornos de humor e ansiosos. O uso diário de THC está associado a piora de sintomas em pacientes com transtorno bipolar e em episódios psicóticos, e o THC pode induzir esses episódios em indivíduos geneticamente predispostos.
O risco está diretamente associado a estressores, exposição precoce, tempo e concentração de THC usado. Além disso, mesmo em pessoas saudáveis é necessária atenção redobrada quando existe histórico familiar desses transtornos psiquiátricos. Por outro lado, o CBD apresenta boa segurança na maioria dos casos.
Transtorno por uso de cannabis
Pessoas com histórico de uso problemático de cannabis, que costuma ser causado pelo THC da maconha fumada, têm um maior risco de abuso de cannabis medicinal contendo THC, por isso essa substância é contraindicada na maioria das vezes.
Por outro lado, a cannabis medicinal pode ser uma alternativa segura para o tratamento desse transtorno, onde há possibilidade de substituir a maconha fumada pelos canabinoides em forma de óleo, e fazer uma redução gradual e controlada. Você pode ler mais sobre Transtorno por uso de cannabis aqui X!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!X
Interações medicamentosas
Os canabinoides podem aumentar ou diminuir o efeito de vários medicamentos. Isso é mais evidente no caso de sedativos, onde a combinação amplifica seus efeitos. Mas isso pode ocorre com alguns remédios de várias classes, como anti-inflamatórios, antibióticos, antidepressivos, anticoagulantes, etc. Sempre informe seu médico sobre medicamentos e suplementos em uso para uma avaliação adequada.
Outros riscos e considerações
Forma de uso
Algumas formas de tratamento não são devidamente regulamentados no Brasil, como fumo ou vaporização da planta in natura, e uso de vaporizadores ou cigarros eletrônicos contendo canabinoides. Existem pacientes com habeas corpus para obter a planta in natura, mas isso é excepcionalmente raro.
Essas formas de uso são indicadas quando se busca um efeito mais intenso e imediato, como para tratamento da dor aguda, redução de náusea, aumento do apetite, indução do sono, crises de enxaqueca. Ainda assim, e sabendo que ocorre automedicação e uso recreativo com esses métodos, vale mencionar que o uso de alguns tipos de vaporizadores está associado a maior risco de embolia pulmonar, que pode ser fatal.
Trabalho em altura, direção e uso de máquinas pesadas
O efeito agudo dos canabinoides, e em particular o THC, pode levar a alterações psicomotoras transitórias, como lentificação do pensamento e diminuição de reflexos, o que prejudica a capacidade de exercer funções que exigem essas faculdades preservadas. Recomenda-se que pacientes em uso de THC não dirijam ou exerçam outras atividades de risco por pelo menos 4 horas após a inalação do produto, 6 horas após ingestão oral ou sublingual, e 8 horas se durante o uso experimentou níveis de euforia. Esse tempo de resguardo pode ser maior ainda se o usuário tiver alterações mentais ainda perceptíveis
Gravidez e lactação
A cannabis é contraindicada em qualquer forma durante a gravidez. Os canabinoides cruzam a barreira placentária e atingem o bebê em desenvolvimento. As consequências dessa exposição não são claras, mas se supõe que possa haver prejuízo ao neurodesenvolvimento.
Os canabinoides também são excretados no leite materno por até 6 dias após o uso, por isso também são contraindicados
Se você se interessa pelos riscos específicos de fumar maconha, pode encontrar meu texto a respeito aqui.