Arte memética sobre afetivograma

Ferramenta: Afetivograma

Uma maneira simples de registrar oscilações de humor, identificar padrões e ajustar o tratamento

Publicado em 14 de novembro de 2025

Resumo

O afetivograma é basicamente um mapa do humor, ele é usado para identificar flutuações e rastreá-las ao longo do tempo. É uma das ferramentas mais práticas e validadas para o acompanhamento dos transtornos de humor, especialmente o transtorno bipolar. Abaixo você pode baixar o modelo que uso em minhas consultas, e mais abaixo ler as instruções de uso.
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O afetivograma, em detalhes

O afetivograma nos permite visualizar como o humor oscila ao longo dos dias, semanas e meses, o que é essencial para entender o padrão do transtorno, e ajustar o tratamento com mais precisão. Ele funciona como um painel de dados objetivos. Isso é importante, pois quem sofre com transtornos de humor nem sempre consegue transmitir no momento da consulta a real intensidade dos episódios, mas apenas um recorte do humor enviesado naquele momento.

Por exemplo, se durante a consulta o paciente estiver muito deprimido, talvez ignore que em algum momento desde a consulta anterior teve uma elevação de humor importante, o que é uma distorção comum de memória.

Um mapa do humor também facilita que o paciente desenvolva uma melhor consciência sobre si e suas emoções. Ele permite identificar possíveis estressores, fatores ambientais e gatilhos que influenciaram o humor. Outra utilidade é que, se usado com consistência, o afetivograma pode ser um elemento que reforça a rotina diária, tornando-se um ritual que envolve responsabilidade, reflexão e autocuidado. Tudo isso fortalece a capacidade de prevenção e manejo dos episódios.

Qual o melhor afetivograma?

Mapear o humor pode ser uma tarefa mais ou menos complexa, dependendo da disponibilidade e adesão de cada paciente. Por exemplo, seria possível anotar variações de humor dentro de um mesmo dia, emoções e sentimentos relacionados, dados sobre sono, alimentação, ambiente, medicação, socialização, e outros hábitos, o que é útil em alguns casos, mas se torna uma tarefa excessivamente trabalhosa e difícil de interpretar, como na imagem a seguir.

Exemplo de tabela usada para mapear humor
Afetivograma excessivamente detalhado

O afetivograma pode ser adaptado para as necessidades de cada paciente, existem muitos formatos possíveis, e nenhum é necessariamente melhor. Busco sempre encontrar um equilíbrio entre quantidade de dados, precisão, facilidade de uso e utilidade terapêutica.

Um gráfico do humor é menos útil quando existem variações muito rápidas e intensas de humor, ou sintomas de mania e depressão ocorrendo ao mesmo tempo, como em casos de ciclagem ultrarrápida e nos episódios mistos. (fazer link com ciclagem rápida e episódios mistos). Mesmo assim o afetivograma pode ser usado para identificar como essas condições evoluem ao longo do tempo.

Com os anos desenvolvi algumas ferramentas próprias, e abaixo você encontrará um modelo de afetivograma que uso em minhas consultas. Esse modelo leva em consideração alguns critérios diagnósticos e sintomas típicos dos diferentes estados de humor, e também permite traçar um gráfico que simplifica a visualização das oscilações. Não é uma ferramenta perfeita, mas considero como um bom parâmetro na grande maioria dos casos.

Como os transtornos de humor são condições crônicas e possivelmente progressivas, também uso um sistema para reunir dados ao longo de meses e anos, mas isso deve ser abordado em consulta.

Como usar o afetivograma

O arquivo baixado contém 2 páginas, a primeira contém o afetivograma em si, e a segunda a escala de humor que deve ser utlizada, também disponível mais abaixo. Sugiro imprimir essas páginas em uma folha frente e verso.

No quadro cada número da primeira coluna representa um estado de humor, sendo 0 a forma mais grave de depressão, e 10 a forma mais grave de mania. E cada número nas colunas seguintes é um dia do mês.

Para usar o afetivograma basta anotar diariamente o humor na grade da primeira página, seguindo a escala da segunda página. Sempre marque aquele estado de humor mais representativo do dia. Às vezes os sintomas são muito semelhantes entre dois estados, como quando ocorrem diversos sintomas de hipomania, e apenas um deles mais intenso, que poderia ser considerado de mania. Nesses casos você deve marcar aquele estado que é mais grave, é preferível pecar pelo excesso do que não identificar um quadro grave surgindo.

ESPAÇO RESERVADO PARA IMAGEM

Essa é a função mais básica de um mapa de humor, e é suficiente na maioria dos casos. O modelo que utilizo inclui outras anotações úteis: nas linhas abaixo da escala de humor há 3 células: M, T e N, ou manhã, tarde e noite. Nelas é possível anotar o número da escala que melhor representa o estado de humor naquele momento do dia. Espera-se que não haja grande variação na maioria dos dias, e alterações agudas apontam uma reatividade emocional aumentada.

As variações de humor podem ser precipitadas por acontecimentos importantes, por isso as últimas 3 linhas contém espaços onde acontecimentos e suas datas podem ser anotados.

Costumo incluir mais detalhes usando símbolos próprios ou diferentes cores para identificar situações relevantes, mas para a maioria dos casos anotar diariamente o estado de humor é suficiente.

Sugiro que os pacientes dediquem alguns minutos à noite para preencher o afetivograma, quando é possível avaliar o dia na totalidade. Existem [[Aplicativos de saúde mental]] que se propõe a facilitar o uso dessa ferramenta, permitindo o registro em vários momentos ao longo do dia. Ainda considero preferível o bom e velho método do papel e caneta, pois o uso de um aplicativo leva o paciente a usar mais o celular/computador, o que às vezes é contraproducente.

O que esperar

É importante reconhecer que oscilações leves de humor são perfeitamente normais e esperadas. Variações na escala entre 5 e 6 são ótimas, e é nelas que esperamos chegar com o tratamento, mas é perfeitamente aceitável viver períodos no nível 4.

Os níveis 3 e 7 da escala também são geralmente toleráveis por períodos curtos com acompanhamento regular. A maioria dos pacientes gostaria de viver entre os níveis 6 e 7, e é comum nesse momento pensar em interromper o tratamento. Esse pode ser um objetivo razoável em alguns casos, mas geralmente é uma armadilha que leva a auto-sabotagem e piora do quadro. Para esses casos aconselho outra ferramenta útil que ajuda a identificar sinais de mania, o DIG FAST.

Alguns afetivogramas incluem, por exemplo, a anotação de sintomas psicóticos específicos ou ideação suicida. Considero que realisticamente o paciente deixará de usar essa ferramenta quando estiver próximo dos extremos que envolvem esse tipo de sintoma, então variações entre 1 e 2, e entre 8 e 9 o requerem avaliação médica o mais breve possível, e os extremos, 0 e 10, requerem atenção imediata.

Por último, gosto de enfatizar que todas as variações são parte da experiência humana, nenhum desses estágios é permanente, nunca. A tendência a quantificar e dar nome a experiências subjetivas nem sempre é necessária,

Também é comum durante um episódio de mania não ser capaz de reconhecer a própria situação; por isso, é sempre bom contar com a ajuda de pessoas próximas. Basta conversar sobre o afetivograma com alguém de muita confiança, e pedir que aponte quando surgirem sintomas mais graves.

Gráfico de humor

Após preencher o quadro durante o mês será possível traçar o gráfico de humor

ESPAÇO RESERVADO PARA IMAGEM

Escala de humor

10 - Mania com sintomas psicóticos

  • Delírios, alucinações, ruptura com a realidade
  • Perda total da capacidade de julgamento
  • Sono extremamente perturbado
  • Paranoia
  • Agressividade
  • Grande risco para si, e para pessoas ao seu redor


9 - Mania

- Contato prejudicado com a realidade
- Diminuição importante da capacidade de julgamento
- Ideias grandiosas, euforia, aceleração psíquica
- Sono muito reduzido, energia inesgotável, agitação
- Grande reatividade emocional, irritabilidade
- Confusão significativa, fala incoerente
- Comportamento impulsivo e perigoso
- Gastos exorbitantes, hipersexualidade, risco de exposição social
- Prejuízo significativo em todas as esferas, incompatível com atividades cotidianas
### 8 - Hipomania
- Autoestima inflada
- Aumento de energia, diminuição da necessidade de sono
- Pensamento e fala acelerados, impaciência, inquietação
- Novos planos e projetos
- Gastos excessivos, aumento de libido, desinibição
- Distraibilidade, tarefas simultâneas contraprodutivas
- Ansiedade e sensação de perda de controle
- Prejuízo significativo, mas consegue manter atividades rotineiras
### 7 - Humor moderadamente elevado (Hipertimia)
- Aumento de energia, produtividade e socialização
- Otimismo, fala mais articulada, aumento de energia
- Sem prejuízo significativo, mas tendência a excessos
### 6 - Humor levemente elevado
- Boa produtividade e socialização
- Otimismo acima do normal
- Funcional e sem risco significativo
### 5 - Normal (Eutimia)
- Humor equilibrado, clareza mental, perspectiva positiva, rotina estável
### 4 - Humor rebaixado
- Evita algumas situações sociais
- Dificuldade de concentração
- Maior tendência ao cansaço ou irritabilidade
- Preferência por atividades passivas, que não exigem esforço
- Funcional e sem risco significativo
### 3 - Depressão leve
- Tristeza, ansiedade, desânimo
- Afastamento social
- Dificuldade de concentração
- Sono excessivo ou insônia
- Aumento ou diminuição do apetite
- Pouco prejuízo às atividades cotidianas
### 2 - Depressão Moderada
- Aumento de tristeza, ansiedade, desânimo
- Retraimento social, apatia
- Lentificação do pensamento e da fala, problemas de memória
- Irritabilidade, pessimismo
- Dificuldade em executar parte das tarefas cotidianas
- Prejuízo significativo, mas consegue manter atividades cotidianas
### 1 - Depressão Grave
- Tristeza profunda, ansiedade e desesperança intensas
- Baixa energia, dificuldade em tarefas básicas como higiene e alimentação
- Isolamento social e irritabilidade importantes
- Sentimento de culpa, julgamento prejudicado
- Pensamentos de morte ocasionais, sensação de não haver saída, vontade de sumir
- Prejuízo significativo em todas as esferas, incompatível com atividades cotidianas
### 0 - Depressão Grave com sintomas psicóticos
- Delírios, alucinações, agitação ou catatonia
- Pensamentos suicidas constantes, com ideação e/ou planejamento de suicídio, possíveis tentativas

Aviso: este material tem caráter informativo e educacional; não substitui avaliação médica individualizada.